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A dor

Meu filho,

diziam os reis e os profetas,

tome cuidado!

Não se exponha

Não se ponha

A realidade é dura

 

Mamãe beijava

o machucado

e dizia que já passou

mas nunca disse

que há verdadeira dor

da qual a gente não se cura.

 

Então construí minha armadura

E alí me resguardei

Esperando nunca sentir

a dor,

horror

e a loucura.

 

E no meu casco

me acostumei

a não sentir

e a não fazer sentir,

à melancolia,

à solidão.

 

Reis nefastos! profetas infestos!

Que me ensinaram a esconder,

nunca avisaram

que de mim vem dor,

da qual não poderei me desfazer.

Os Sentidos

É difícil saber o que dizer, exatamente. Eu fiquei alguns minutos encarando o cursor piscar na página em branco do Word. Sempre tive dificuldade de expressar sentimentos, colocá-los em palavras. Às vezes o que sinto é tão complexo, que mal sinto que cabe dentro de mim, muito menos em um adjetivo. Sentir não é racional, raramente conseguimos exprimir com exatidão o que sentimos, jogamos adjetivos de um lado pro outro, mas nunca sentimos só raiva, ou só paixão, sempre tem um je ne sais quoi, aquilo que não cabe em todas as combinações possíveis de todas as letras do alfabeto. Por isso eu tenho dificuldade em escrever. Não que eu considere que eu escrevo “mal”, mas sempre acho medíocre, pois nunca acho que consigo transmitir o que sinto com exatidão.

Isso tudo pra dizer que eu deixei de escrever algo que está martelando nos meus pensamentos já há um tempo, pois não sabia exatamente o que sentia, e, portanto, o que queria dizer. Mas vou falar mesmo assim, porque os sentimentos permanecem e os pensamentos crescem, e daqui a pouco, sinto que não terá espaço suficiente em meu corpo para armazená-los.

Outro dia conversava com a minha mãe sobre algo que já não me lembro, mas sei que o assunto chegou ao preconceito. Falava da minha indignação contra o racismo e dizia que não conseguia compreender o que levava alguém a pensar que uma raça poderia ser inferior ou superior à outra. Minha mãe concordou. Depois falei que também não conseguia compreender a homofobia. Minha mãe discordou. E foi esse o estopim que me levou a escrever isso. Ela disse que achava estranho, que se sentia incomodada, que não entendia, mas ela disse que não julga ninguém por isso, ou deixa de gostar de alguém por sua orientação sexual. Talvez se eu ouvisse isso e não fosse bissexual, não me incomodaria tanto, não me machucaria, não pensaria na ideia de que talvez a minha mãe olhasse pra mim diferente, pensasse menos de mim, não me tratasse igual. Para mim, se alguém consegue entender o amor por outra pessoa, a paixão, a libido, então ela pode entender a homossexualidade, a bissexualidade, a heterossexualidade, seja lá qual for. Pode ser que ela não sinta o desejo com alguém do mesmo sexo, mas ela sente desejo por outra pessoa que não ela mesma. E pra mim isso já basta. Ninguém escolhe sua orientação sexual. Ninguém acorda e diz: “hoje vou ser gay”, ou “hoje serei hetero”. Alguém que é hetero não sabe, particularmente, o porquê, ele só sente o desejo por alguém do sexo oposto, é inato, assim como a atração por alguém do mesmo sexo. A gente não sabe explicar porque a gente gosta de homem, ou mulher, ou ambos, é sentimento, é instinto. Tudo bem que provavelmente há mil explicações psicológicas para a orientação sexual, mas isso vale para qualquer orientação sexual.

O grande problema do homem é a necessidade de racionalizar tudo: precisamos rotular, quantificar, qualificar, metodizar, definir, analisar e explicar tudo o que fazemos, sentimos e pensamos. Tudo precisa ter um sentido. Mas o problema é que, no meio dessa necessidade de tudo ter sentido, paramos de sentir. Tudo é pensado, calculado, esquematizado, tudo precisa dobrar-se diante leis e regras, que são absorvidas e interiorizadas pelo nosso ego, e que acabam prescrevendo nossas opiniões e pensamentos. Não estou dizendo que devemos esquecer toda a racionalidade e agir apenas segundo nossas sensações, isso faria tão pouco sentido quanto querer racionalizar tudo. O que estou dizendo, é que nem tudo cabe num esquema. O amor não cabe num esquema. Nem o desejo. Isso cabe no sentimento. Nem tudo precisa fazer sentido, às vezes só precisa ser sentido. 

Os Eles ou A Desculpa

Desculpe. Eu fui uma escrota. Eu nem olhei na sua cara quando você tentou pegar na minha mão. Eu sei que eu podia ter sido uma daquelas meninas que dá satisfação. Podia ter delicadamente soltado a sua mão, andado com você até um canto, e falado, de uma maneiro educada, que eu não queria nada com você. E não era por ser você. Eu nem te conhecia. Eu só estou confusa. Nossa que clichê. Ridiculo. Patético. Por isso fui escrota, rejeição é uma merda em qualquer forma que ela venha, e como eu odeio clichês, achei preferível ser escrota.
Acho um pouquinho engraçado até, eu ter sido escrota, porque a primeira vez que te beijei (e sinceramente, foi porque eu estava bebada e com vontade de beijar na boca), eu falei que eu não era uma pessoa escrota. Não acho que sou uma pessoa especialmente escrota, só acho que a escrotisse não é necessariamente dispensável em todos os casos. Acho que ser escrota é ruim, sim, acho que ser legal é sempre melhor. Mas eu realmente odeio clichês. Me dão nausea. Clichês me fazem sentir medíocre, como aqueles filmes que não são nada memoráveis, e que não tiveram impacto nenhum na sua vida, na verdade, você seria até um pouco mais intelectual se não tivesse os assistido.
Outra verdade é que eu fui escrota porque não tava afim de dar satisfação. A festa tava bastante ruim, mas com certeza não horrivel, nada é horrível com três caipirinhas. Eu só estava afim de ficar com ela. E além de não ser ela (o que é bastante impossível), você também não era ele. Bem, você é um ele. Mas não o ele que eu queria. Daí a confusão. Ela ele ela ele ela ele ela ele e assim vai. Se você olha rapido até parece a mesma palavra. Mas não. E o pior, pra você pelo menos (e infelizmente pra mim), é que você não era nem ele nem ela (e Ah! como seria mais facil se você fosse qualquer um dos dois). Você não era um território novo e inexplorado, diferente (sim, o desconhecido me dá um puta tesão), e eu também não era apaixonada por você.
E claro, você não tem culpa de não ser ambos. Não tem como você ser fisiológicamente diferente (não que pra mim seja necessário, eu gosto das duas fisiologias). E também não tinha como eu ter me apaixonado por você em dois dias. Mas uma vez que você sente, é dificil deixar-se levar por qualquer um, sem nada lá. Isso provavelmente já parou de fazer sentido.
Enfim, tentando chegar ao ponto. Beijar na boca é bom, não nego. Mas depois de algumas vezes, se não desencadeou algum sentimento em você (nesse caso o você sou eu), perde a graça. E eu só senti isso uma vez. E desde então eram beijos na boca e pronto. Vai ver até que a distância foi uma defesa contra a expectativa e a decepção (que, vamos combinar, são duas escrotas). E eu provavelmente só seguraria sua mão firme e olharia no seu rosto se você fosse ele. Já com ela, só se repetiu porque o que aconteceu foi justamente o oposto. Era novo, divertido, sem expectativas de e para ambos os lados. Não era estranho depois, não tinha tensão. Era só bom. E eu gosto disso.
Não que não foi bom com você, foi, mas como eu falei já, tinha lá naquela noite o conflito dos Eles. Talvez fosse diferente se ela não tivesse ido na festa, ou se o meu avô não tivesse sido diagnosticado com câncer, ou se eu tivesse passado pra faculdade que eu queria. Mas, como disse uma vez um professor meu, “shit happens”. E foi isso então. Espero que você não leia isso, porque você provavelmente me achará ainda mais escrota. Agora percebo que estou mais me desculpando a mim mesma do que a você, e por isso, peço desculpas novamente.

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Cabelo

MAM é MAM no espelho 
Palavra anagramática
MAM mum mãe la mère la mer
Nossa mãe oceano bombardeio de raios
Os primeiros unicelulares o nascimento de Frankenstein a consciência a história do olho

Do mar para a terra da terra para o ar do ar ao espaço o hubble a bubble
A bubble gum gun a manifestação do extraordinário mianmar MIANMAR MIROIR
MAM mar mamar leite de baleia conversa de golfinho dente de tubarão
Uma gota de sangue no oceano o inconsciente a usina HUMÚSICA
Ao poeta foi concedido o poder alquímico das minhocas
Transformando em húmus os dejetos materiais e imateriais da civilização
Humor hum mmm rumor de vozes as vacas fazem moo o espelho sonoro reflete OM o som primordial 
Da criação Big Bang o verbo radiação de fundo ecos Big Bang Bang
Rima do morro com asfalto ritmo e poesia a cultura oral viral a epidemia verbal 
O boato a gíria o mundo roda e a pomba gira o casamento dos tubarões da umbanda com o funk
Incorporando novos caboclos canteiros urbanos paraíso de erexus GLUE LAGOON
Piscina vazia o nada sincronizado após a chuva vermes crina de cavalo 
Também chamados cabelo vivo vibram na poça oracular

E eu aqui

E eu aqui sentada, ou melhor, eu e os pombos. Bichos sujos, os pombos. Eu também, de certo modo. Quer dizer, eu estou limpa, mas me sinto suja, por causa do cigarro, da rua, sei lá, da vida. Mas enfim, voltando ao assunto. E eu aqui sentada, escrevendo essas palavras só porque não tenho nada melhor pra fazer, encostada na pedra dura (e suja) desse monumento. E eu sentada aqui em busca de alguma coisa, sempre procurando. Eu não sei bem o que é, mas já procuro há um tempo, alguém, alguma coisa. Começou a choviscar. Levanto para ver se a grama molhada limpa a merda dos meus sapatos. Pra ver se a chuva me desmancha. Mas eu não sou de açúcar e só me molho. E então a vida é isso, pisar na merda e infalivelmente se encharcar de chuva. Mas a gente limpa a merda e seca, até que pisamos na merda e nos encharcamos novamente. E continuamos a buscar, sentados na praça, na escrivaninha, seja onde for. Bendito seja o dia em que eu ache algo na praça, encostada na pedra suja, eu e os pombos, com merda nos sapatos e molhada de chuva. Não chove mais, e eu como o meu passatempo (que irônico) pra ver se eu preencho o vazio. Não foi por isso que eu vim aqui, afinal? Não, vim aqui porque não achei o livro que eu queria, e resolvi que não tinha mais o que fazer se não sentir o vento gelado na minha cara, esvaziar minha cabeça, que a princípio está em overdrive, mas logo percebo que está vazia. Vazia, vazio, cansei de sentir isso, de querer tanto algo que me consoma, e nunca achar nada. E escrevo porque não sei mais o que sentir, e então traduzo o que eu sinto em palavras, para ver se isso dá em algo, não sei, não sei, é por isso mesmo que escrevo? Preencho constantemente a minha cabeça de coisas para ver se encontro o que procuro, mas essas coisas são todas nada, porque logo vou esquecê-las e não vão ser elas que me ajudarão a encontrar. A me encontrar? Não sei, e possivelmente eu nunca saiba, mas continuarei preenchendo os meus espaços com nadas, até que talvez, um dia, eu ache alguma coisa. Verdadeira. O que é verdadeiro eu não sei, mas vou voltar pra casa pra me secar, porque isso já é historia pra outro dia sujo.

Metonímia

Gota que pula

para respirar

e cai de volta no todo (mar)

nula

Ser aí

Você que sou eu

Sendo assim um só e muitos

Ser aí, alí

Onde, meu bem?

Que é uma potência

Infinita ou nula

De tudo que já foi e existirá

Neste e em outros mundos

Ditame do medíocre

“This is what it feels like: you walk into a room and the door locks behind you and you spend a little while panicking, looking around for a key or a window or something, and the when you realize that there is no way out, you start to make the best of what you got. You try out the chair, and you realize that it’s actually not uncomfortable, and there’s a TV, and a couple of books, and there’s a fridge stocked with food. You know, how bad can it be? And me asking for a divorce was the panic, but very soon I get to this stage of looking around at what I’ve got. And what I’ve got turns out to be two lovely kids, a nice house, a good job, a husband who doesn’t beat me and presses all the right buttons on the lift… I can do this, I think. I can live this life.”

How To Be Good

Nick Hornby

Agito

Sábado à noite

Eu na batida insana

Da minha mente

O fígado pesa

O pulmão também

Foda-se

Poema de uma face só

Oh, darling

Se assim pudesse te chamar

Mas como Carlos,

Fui gauche na vida

E para ti

Não achei nem rima

Nem solução