Os Eles ou A Desculpa

Desculpe. Eu fui uma escrota. Eu nem olhei na sua cara quando você tentou pegar na minha mão. Eu sei que eu podia ter sido uma daquelas meninas que dá satisfação. Podia ter delicadamente soltado a sua mão, andado com você até um canto, e falado, de uma maneiro educada, que eu não queria nada com você. E não era por ser você. Eu nem te conhecia. Eu só estou confusa. Nossa que clichê. Ridiculo. Patético. Por isso fui escrota, rejeição é uma merda em qualquer forma que ela venha, e como eu odeio clichês, achei preferível ser escrota.
Acho um pouquinho engraçado até, eu ter sido escrota, porque a primeira vez que te beijei (e sinceramente, foi porque eu estava bebada e com vontade de beijar na boca), eu falei que eu não era uma pessoa escrota. Não acho que sou uma pessoa especialmente escrota, só acho que a escrotisse não é necessariamente dispensável em todos os casos. Acho que ser escrota é ruim, sim, acho que ser legal é sempre melhor. Mas eu realmente odeio clichês. Me dão nausea. Clichês me fazem sentir medíocre, como aqueles filmes que não são nada memoráveis, e que não tiveram impacto nenhum na sua vida, na verdade, você seria até um pouco mais intelectual se não tivesse os assistido.
Outra verdade é que eu fui escrota porque não tava afim de dar satisfação. A festa tava bastante ruim, mas com certeza não horrivel, nada é horrível com três caipirinhas. Eu só estava afim de ficar com ela. E além de não ser ela (o que é bastante impossível), você também não era ele. Bem, você é um ele. Mas não o ele que eu queria. Daí a confusão. Ela ele ela ele ela ele ela ele e assim vai. Se você olha rapido até parece a mesma palavra. Mas não. E o pior, pra você pelo menos (e infelizmente pra mim), é que você não era nem ele nem ela (e Ah! como seria mais facil se você fosse qualquer um dos dois). Você não era um território novo e inexplorado, diferente (sim, o desconhecido me dá um puta tesão), e eu também não era apaixonada por você.
E claro, você não tem culpa de não ser ambos. Não tem como você ser fisiológicamente diferente (não que pra mim seja necessário, eu gosto das duas fisiologias). E também não tinha como eu ter me apaixonado por você em dois dias. Mas uma vez que você sente, é dificil deixar-se levar por qualquer um, sem nada lá. Isso provavelmente já parou de fazer sentido.
Enfim, tentando chegar ao ponto. Beijar na boca é bom, não nego. Mas depois de algumas vezes, se não desencadeou algum sentimento em você (nesse caso o você sou eu), perde a graça. E eu só senti isso uma vez. E desde então eram beijos na boca e pronto. Vai ver até que a distância foi uma defesa contra a expectativa e a decepção (que, vamos combinar, são duas escrotas). E eu provavelmente só seguraria sua mão firme e olharia no seu rosto se você fosse ele. Já com ela, só se repetiu porque o que aconteceu foi justamente o oposto. Era novo, divertido, sem expectativas de e para ambos os lados. Não era estranho depois, não tinha tensão. Era só bom. E eu gosto disso.
Não que não foi bom com você, foi, mas como eu falei já, tinha lá naquela noite o conflito dos Eles. Talvez fosse diferente se ela não tivesse ido na festa, ou se o meu avô não tivesse sido diagnosticado com câncer, ou se eu tivesse passado pra faculdade que eu queria. Mas, como disse uma vez um professor meu, “shit happens”. E foi isso então. Espero que você não leia isso, porque você provavelmente me achará ainda mais escrota. Agora percebo que estou mais me desculpando a mim mesma do que a você, e por isso, peço desculpas novamente.

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