Arquivo mensal: outubro 2012

E eu aqui

E eu aqui sentada, ou melhor, eu e os pombos. Bichos sujos, os pombos. Eu também, de certo modo. Quer dizer, eu estou limpa, mas me sinto suja, por causa do cigarro, da rua, sei lá, da vida. Mas enfim, voltando ao assunto. E eu aqui sentada, escrevendo essas palavras só porque não tenho nada melhor pra fazer, encostada na pedra dura (e suja) desse monumento. E eu sentada aqui em busca de alguma coisa, sempre procurando. Eu não sei bem o que é, mas já procuro há um tempo, alguém, alguma coisa. Começou a choviscar. Levanto para ver se a grama molhada limpa a merda dos meus sapatos. Pra ver se a chuva me desmancha. Mas eu não sou de açúcar e só me molho. E então a vida é isso, pisar na merda e infalivelmente se encharcar de chuva. Mas a gente limpa a merda e seca, até que pisamos na merda e nos encharcamos novamente. E continuamos a buscar, sentados na praça, na escrivaninha, seja onde for. Bendito seja o dia em que eu ache algo na praça, encostada na pedra suja, eu e os pombos, com merda nos sapatos e molhada de chuva. Não chove mais, e eu como o meu passatempo (que irônico) pra ver se eu preencho o vazio. Não foi por isso que eu vim aqui, afinal? Não, vim aqui porque não achei o livro que eu queria, e resolvi que não tinha mais o que fazer se não sentir o vento gelado na minha cara, esvaziar minha cabeça, que a princípio está em overdrive, mas logo percebo que está vazia. Vazia, vazio, cansei de sentir isso, de querer tanto algo que me consoma, e nunca achar nada. E escrevo porque não sei mais o que sentir, e então traduzo o que eu sinto em palavras, para ver se isso dá em algo, não sei, não sei, é por isso mesmo que escrevo? Preencho constantemente a minha cabeça de coisas para ver se encontro o que procuro, mas essas coisas são todas nada, porque logo vou esquecê-las e não vão ser elas que me ajudarão a encontrar. A me encontrar? Não sei, e possivelmente eu nunca saiba, mas continuarei preenchendo os meus espaços com nadas, até que talvez, um dia, eu ache alguma coisa. Verdadeira. O que é verdadeiro eu não sei, mas vou voltar pra casa pra me secar, porque isso já é historia pra outro dia sujo.

Metonímia

Gota que pula

para respirar

e cai de volta no todo (mar)

nula

Ser aí

Você que sou eu

Sendo assim um só e muitos

Ser aí, alí

Onde, meu bem?

Que é uma potência

Infinita ou nula

De tudo que já foi e existirá

Neste e em outros mundos

Ditame do medíocre

“This is what it feels like: you walk into a room and the door locks behind you and you spend a little while panicking, looking around for a key or a window or something, and the when you realize that there is no way out, you start to make the best of what you got. You try out the chair, and you realize that it’s actually not uncomfortable, and there’s a TV, and a couple of books, and there’s a fridge stocked with food. You know, how bad can it be? And me asking for a divorce was the panic, but very soon I get to this stage of looking around at what I’ve got. And what I’ve got turns out to be two lovely kids, a nice house, a good job, a husband who doesn’t beat me and presses all the right buttons on the lift… I can do this, I think. I can live this life.”

How To Be Good

Nick Hornby

Agito

Sábado à noite

Eu na batida insana

Da minha mente

O fígado pesa

O pulmão também

Foda-se

Poema de uma face só

Oh, darling

Se assim pudesse te chamar

Mas como Carlos,

Fui gauche na vida

E para ti

Não achei nem rima

Nem solução

Três nômades

I

Deserto só

Areia amarela

O pó

Da alma singela

Que vaga sem rumo

No fundo do mundo

Me afundo

 

II

Ando sonhando

Que sonho andando

Distraído, vagando

Na noite, me ofuscando

Em pensamento sem rumo

Eu sumo

 

III

Caminhar solitário

Levemente embriagado

E sentir sutil toque

Do saber que tudo errou

Restavam apenas as ruas

Sem um sorriso

Aberração

Carrego o peso dessa supérflua vida

Arrasto o seu peso em meu rim

Que é que faço para exorcisá-lo de mim?

Essa mísera existência deveria ser banida

 

O que é a morte se não afago a humanidade?

E o ensejo de afogar-me no perdão!

Ah! Aqui só me resta a esperança de podridão,

Se me resumo aos infortúnios da hereditariedade!

 

Meu destino se expressa na beleza do abismo

A efemeridade é meu único batismo

Findarei a sensação dessa eterna canseira

 

Agora, só penso em tranquilidade

Ao me simplificar a minha mínima potencialidade

E dormir eternamente sob os espinhos da roseira

A deriva

Me encontra a deriva

Sem as falas do teatro

De minha biografia

 

E o que fazer se o ensaio,

Já é a própria vida?

 

É como nunca viver

Estar apenas uma vez

Na efemeridade do meu ser

A arma

POW!

A arma disparou

E furou

A minha alma

Cadê a calma

Da minha inocência?

Por que só vejo violência?

E o ruído demente

Do metal quente

Que seguro em minha mão

Ah! E o chão!

Agora, só a firmeza do precipício

É esse o derradeiro início

Fim.